Existem muitas maneiras de duas pessoas
apaixonadas se conhecerem melhor: irem juntas ao cinema, sairem para um chope,
passearem de bicicleta, fazerem festa com os amigos, motel. É a programação
clichê da maioria dos namorados. Mas será que isso basta para conhecer alguém?
Um homem e uma mulher podem tomar quatrocentos litros de chope juntos e
continuarem sabendo muito pouco um do outro. Uma coisa é saber o que ele pensa,
e isso pode ser feito numa mesa de bar. Outra é saber como ele é, e isso requer
mais intimidade, e não é de sexo que se está falando. É de convivência 24
horas. Como descobrir, antes de casar ou morar junto, se ele ronca, se ela
demora no banho, se ele usa fio dental, se ela acorda de mau humor, se ele sabe
lidar com o inesperado, se ela é mesmo independente? Pegando a estrada. Viajar
juntos é o grande teste para um casal. Passar alguns dias acampando, ou num
hotel, numa casa alugada, não importa onde, desde que seja um território neutro
onde se possa repartir os bons e maus momentos, descobrir as manias de cada um,
os hábitos que foram herdados dos pais, a verdadeira face oculta, que
dificilmente se revela numa festa de sábado. Ela sempre aparecia cheirosa nos
encontros. Perfumaria. Viajando juntos, você descobre que ela é adepta do banho
de gato, uns respingos e deu. Dorme com uma baba no cabelo, que é pra não
ressecar. Usa a mesma camiseta cinco dias seguidos e sua escova de dentes
completou três aninhos em agosto. Ele sempre falou que honestidade era sua
maior virtude. Nota-se. Na estrada, tentou subornar dois guardas. Chegando na
casa que alugaram, ele deu um jeito de emperrar uma janela para pedir um
abatimento no preço. Ao fazerem as primeiras compras no mercadinho da cidade,
você o flagrou escondendo uma barra de chocolate no casaco e passando pelo
caixa sem pagar. Um exemplo de dignidade. É claro que, na maioria das vezes,
uma viagem confirma que a pessoa que elegemos é mesmo maravilhosa, e novas
qualidades são descobertas. Mas é conveniente não reservar as surpresas para a
lua-de-mel. Pequenas viagens de fins-de-semana, ao longo do relacionamento,
podem ser muito reveladoras. Você já sabe que ele gosta de filmes de ação e que
ela prefere comer peixe, mas os dois só saberão dos detalhes da personalidade
de cada um se criarem uma pequena rotina doméstica, fora da vida social. Isso é
brincar de casinha? Que seja. Ainda é o melhor teste para saber se o amor
resistirá a uma vida de verdade.
terça-feira, 30 de outubro de 2012
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